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sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Adeus, Emmanuelle


Emmanuelle (1974)
Morreu hoje, aos 60 anos, Sylvia Kristel, intérprete do clássico erótico Emmanuelle e não podia deixar de fazer um post prestando minhas homenagens à atriz. A personagem do filme, lançado em 1974, com certeza viveu no imaginário de muitos adolescentes que, com os hormônios a flor da pele e sem a facilidade da internet, buscavam filmes mais “apimentados”. E eu me incluo nessa.



Já contei aqui a história do meu primeiro filme pornô, mas antes dessa experiência “marcante” (para dizer o mínimo), me lembro do esforço para ficar acordada até meia noite para assistir ao Cine Privé. A tevê ficava com o mínimo de volume e o controle remoto sempre à mão, caso minha mãe viesse verificar o que motivava sua filha a dormir tão tarde.
Adeus, Emmanuelle (1977)
O longa francês "Emmanuelle" foi inspirado no romance de Marayat Bibidh Andriane e rompeu o tabu do sexo no cinema, marcando uma geração que buscava a libertação sexual. Nas salas escuras, o filme já foi visto por 50 milhões de espectadores e estima-se que, ao todo, mais de 350 milhões de pessoas de todo o mundo tenham se divertido com as peripécias de Emmanuelle.

Emmanuelle, a Anti-Virgem (1975)
Sei que meus leitores não são de comentar no blog, mas queria fazer um convite: que todos aqueles que já viram um filme, deixassem um comentário – pode ser anônimo – falando sobre a cena de Emmanuelle que mais se lembram.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

Gozando de um bom livro

Há algumas semanas fiz um post sobre o Hysterical Literature, um projeto do fotógrafo Clayton Cubit que traz mulheres lendo seus contos eróticos favoritos enquanto são estimuladas por um vibrador. No meu post trouxe o primeiro vídeo da série, que já conta com outros três: Alicia (meio longo, mas é bom); Danielle (gostei bastante); e Stormy:



Hysterical Literature: Session Four: Stormy


Inspirado nesse projeto surgiu, aqui no Brasil, o Gozando de Um Bom Livro, idealizado por Alicia, Adriano (@blogpapaichegou) e o @onifodente. Os vídeos tem a assinatura da SF13 Produções, e conta com a assistente de produção Elaine e a direção de Pedro Diniz. Entrevistei a Alicia sobre o Gozando de um Bom Livro, confiram!

N: Como surgiu a ideia de criar o projeto? Desde quando ele acontece?
A: A ideia surgiu conversando com o @onifodente no gtalk. Mostrei para ele o vídeo da Stoya - pois isso era a cara dele - e ele gritou que nós tínhamos que fazer uma versão brasileira. A partir daí chamei o Adriano do @blogpapaichegou, que já era meu parceiro comercial de outros projetos e podia nos ajudar. Começamos em agosto.

N: Qual a proposta central de vocês ao trazer esse projeto para o Brasil?
A: Queríamos desmitificar o orgasmo feminino padrão, pois cada mulher tem seu momento íntimo de uma forma. O orgasmo é algo democrático: rica, pobre, negra, caucasiana, asiática, todas têm o orgasmo como sua manifestação mais íntima, por isso o consideramos uma forma de arte, uma forma de expressão. Queríamos mostrar não só diferenças extremas - como entre as brasileiras e as americanas, entre as atrizes pornôs e as mulheres comuns -, mas as singularidades de cada mulheres. Cada uma goza de um jeito, é como uma impressão digital.



N: Quais são as semelhanças do Gozando Um Bom Livro com o Hysterical Literature?
A: Basicamente segue o formato original: uma mulher lendo um livro enquanto é estimulada sexualmente. O conceito base como cenário, luz, figurino, esse minimalismo também foi inspirado na obra original.

N: O que vocês procuraram acrescentar de novo, de diferente?
A: Acrescentamos um novo conceito, a começar pela própria literatura escolhida, que tem total ausência de cunho sexual. A própria modelo faz a escolha do livro que irá ler sob a nossa orientação, desde que seja sobre um assunto que ela não tenha nenhum estímulo, que ela deteste, que seja completamente desestimulante. Também adotamos mulheres comuns: toda e qualquer mulher pode participar como leitora, pois queríamos retratar mulheres reais, que você pode encontrar no ponto de ônibus ou na fila do pão.

N: Como é feita a escolha das pessoas que farão a leitura?
A: Justamente por querer retratar as mulheres que encontramos em nosso cotidiano, não há muita escolha. Queremos todos os estereótipos: loiras, morenas, pequenas, altas, gordas, fanhas, gagas... Quanto maior for este leque, mais rica fica experiência.

N: O que vocês procuram nessas mulheres?
A: Coragem... Esse é o maior processo de seleção para nós. Não importam o quanto digam que o Brasil é um país sexualmente desenvolvido e que abusa da sensualidade. Ainda vivemos em um país hipócrita, em que uma moça pode dizer que foi na balada "fritar", mas não pode dizer que foi em um sexyshop. No início achamos que o maior problema seria superar a vergonha que as meninas teriam, mas encontramos um obstáculo maior, tendo que lidar com o medo de repressão profissionais, de familiares, namorado, etc. Buscamos meninas que tenham coragem, não de gozar frente a câmera, mas de assumir seu desejo sexual. Mulher brasileira não se permitiu ainda ter desejos e leva o mundo apenas como "fantasias sexuais", entende a diferença?

N: Até agora foram feitos apenas dois vídeos (Elaine e Lasciva)?
A: Oficialmente foram dois vídeos, mas gravamos também o vídeo um piloto em celular - com baixíssima qualidade técnica, mas que bateu mais de 100 mil views. Esse sucesso serviu para irmos atrás de produtoras de vídeos dispostas a colaborar conosco e assim que encontramos a SF13 Produções sentimos que nossa busca havia terminado. Nossas ideias se encaixaram super bem com o diretor Pedro Diniz - que já é bastante ligado a internet e o mundo da sexualidade. Sendo assim o piloto perdeu o seu propósito e o retiramos do ar. 

N: Vocês já tem quem serão as próximas?
A: Sim... já temos as próximas gravações agendadas, mas iremos manter segredo...





"Não importam o quanto digam que o Brasil é um país sexualmente desenvolvido e que abusa da sensualidade. Ainda vivemos em um país hipócrita, em que uma moça pode dizer que foi na balada "fritar", mas não pode dizer que foi em um sexyshop."



N: A pessoa que faz a leitura também é responsável por trazer seu brinquedinho ou vocês fornecem?
A: Nós temos um conjunto de vibradores e cosméticos, mas aconselhamos que caso a pessoa tenha, traga os dela (por uma questão de conforto, intimidade e até de higiene).

N: Como tem sido a repercussão do projeto?
A: Tem sido fantástica. O primeiro vídeo está na casa dos 70 mil views e o segundo com cerca de 30 mil views. Saímos em vários blogs famosos, em mídias consideradas mais tradicionais e até matérias em portais estrangeiros.

N: Como vocês avaliam o que foi feito até agora?
A: Ainda há um longo caminho a percorrer. Estamos acertando o projeto de formas a encontrar um equilíbrio entre o que nós queremos, o que os fãs querem e o que nos é permitido fazer.

N: Quais são os planos futuros para o gozando de um bom livro? Pretendem fazer alguma mudança? Vocês tem previsão de quantos vídeos pretendem fazer?
 A: Cada vídeo terá algo diferente, algo único. Estamos estudando uma forma de fazer uma versão masculinas também, além de expandir o universo de "garota/livro"


quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Os infiéis

É engraçado como alguns assuntos insistem em aparecer de vez em quando, até parecem crianças tentando chamar a minha atenção. Há umas semanas, assisti o Les Infidèles (Os Infiéis) e como o próprio nome já diz, é um filme que fala sobre traição, mais especificamente, a masculina. Dias depois topei com um apaixonado (acho que ele ainda não se deu conta disso) que se culpava por ter dado uns pegas mais calientes em uma menina e ficando sério com outra. Isso sem contar outros casos de traição que surgiram no meio do caminho. Nessa altura, já tinha certeza que devia fazer um post sobre o tema, discutindo um pouco sobre o conceito de traição.



Por mais óbvio que possa parecer, as pessoas tem conceitos muito distintos do que é considerado traição. O mais comum é aquele que considera o ato consumado, ou seja, quando uma das partes se envolve fisicamente com uma terceira pessoa, sem o consentimento e conhecimento de seu companheiro. Mas já vi questionamentos do tipo, “Pensar em outra é traição?”, “Se masturbar com revistas masculinas, é traição?”, "Se foi algo meramemente físico, sem sentimento, é traição?". Do pensamento mais neurótico e possessivo ao mais liberal, existem diversas formas de pensar sobre isso.

Mas a conversa mais interessante veio em outra ocasião, quando trocava ideia com um amigo. Ele me lembra aquele menino do quadro do Castelo Rá-tim-bum, sempre buscando o porquê das coisas. E nesse dia ele questionava o motivo pelo qual pessoas comprometidas não podiam se envolver com outras.  É importante perceber que a pergunta dele não foi "Por que pessoas comprometidas não podem trair" e foi essa sutileza que me fez ficar pensando.

O dicionário traz vários significados para o verbo trair: "Ser infiel no amor", "Enganar", "Não corresponder a", entre outros. A pergunta do meu amigo não usou a palavra traição porque, do ponto de vista dele, o envolvimento com outra pessoa, mesmo estando comprometido, não necessariamente resultaria no que diz o pai dos burros.

Por que monogamia?
Diversos estudos já apontaram que a natureza do ser humano não é biologicamente programada para ser monogamica (o termo é muito usado para designar uniões como o casamento, mas aqui uso também pro namoro e outros relacionamentos mais sérios). O desejo por terceiros sempre irá existir - e isso para ambas as partes, homems e mulheres, de forma igual.

Um post muito interessante da Marina Terin, no Papo de Homem, traz várias reflexões de como a monogamia está ligada a aspectos econômicos. Resumindo bastante o pensamento dos autores apresentados, o relacionamento monogamico reduziria a procriação desenfreada e a quantidade de filhos nos mundo. Com menos crianças, os pais poderiam lhes fornecer mais recursos, aumentando a probabilidade de sucesso de sua estirpe, além de não gerar bastardos e concentrar a riqueza nas mãos de uma mesma família.

Estreitamente alinhada a questão econômica, a monogamia também foi adotada como um instrumento que garantia os direitos de propriedade e o controle da sexualidade feminina (se pensarmos até hoje é "aceitável" que um homem seja infiél, afinal faz parte de sua sua natureza). De acordo com estudo de Engels (citado por Natalia Pietra Méndez, no artigo "Monogamia e Heterossexualidade: Um breve apanhado histórico sob a ótica de gênero"), o patriaca tinha como função determinar a organização e a continuidade da propriedade privada na mesma linhagem. A forma encontrada foi a certeza da paternidade - ou seja, garantindo que a mulher não tenha relações com vários homens.

Teorias a parte
Várias outros autores e correntes de pensamento poderiam explicar e mostrar as origens da monogamia como uma construção cultural e histórica que favoreceu relações ecônomicas, políticas e de gênero. Mas e quanto aos sentimentos? O amor, os ciúmes, o medo de perder aquele de quem gostamos? Sentir isso tambem é legítimo - afinal, não é também essa capacidade que diferencia o homem dos outros animais?

É difícil chegar a uma conclusão - mesmo depois de pensar bastante na questão e de fazer um dos posts mais longos da história desse blog. Mas pra mim é claro que fidelidade e amor não são sinônimos de falta de desejo por outras pessoas e por outras experiências. Também acho que uma pessoa não deve "impedir" a outra de fazer aquilo que quer, de reprimir suas vontades. Levar isso na prática, no entanto, é outra história.

Mas, se o mais importante em um relacionamento é ser feliz e fazer o outro feliz. Se isso acontece, que mais importa?