Páginas

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ooooh yes! Algumas reflexões sobre pornografia

Meu último post me lembrou de algumas coisas que li sobre filmes pornôs voltados para mulheres.

Uma reclamação constante do público feminino é que grande parte dos filmes adultos são muito chatos: aquele mesmo roteiro, aquela falta de história e de sedução. Conversando sobre isso com outras mulheres, é sempre o que ouço. Algumas dizem mesmo que existem filmes tão ridículos que beiram a comédia e, ao invés de despertar o tesão, acabam com o clima. “Aqueles mais soft, com historinha, até vai. O problema é que só aparece mulher pelada, pinto que é bom nada”. Foi o que disse minha amiga de trabalho e acho que é também o que pensam a maioria das mulheres.

Um dos problemas da indústria pornográfica é que ela é maciçamente criada por homens e para homens e nesse sentido, não tem levado em consideração os desejos do público feminino. Me lembrei de um post antigo do Papo de Homem, escrito pelo Victor Lee (ótimo por sinal, vale a pena ler tudo). Segundo ele, nós mulheres não estamos fazendo o dever de casa como consumidoras. Da mesma forma que os meninos vasculham a rede atrás de algo que agrade, nós devíamos fazer o mesmo. E por que não?

Talvez algumas mulheres sejam ainda muito reticentes quando o assunto é sexo e morrem de vergonha de procurar coisas mais ousadas. Acabam entrando em qualquer lugar - achando que filme pornô é tudo igual mesmo, então tanto faz – e assistindo a qualquer porcaria. Outras, claro, têm preguiça mesmo (a desculpa de não saber onde encontrar não cola mais. O que mais existe é opção, basta procurar). 

Para mulheres
Além dos pornôs tradicionais, hoje existem produtoras especializadas em criar filmes adultos direcionados só para mulheres. Elas, que sempre foram as estrelas desse tipo de produção, estão agora atrás das câmeras
Tudo começou no fim da década de 70, quando pioneiras, como a americana Candida Royalle, decidiram mostrar suas ideias. Cândida, então atriz pornô, se dizia insultada com os filmes que ela própria encenava. Ela resolveu, então, procurar empresas que estivessem dispostas a produzir filmes com histórias mais criativas e que não fossem simplesmente um pretexto para os atores tirarem a roupa. Na década de 80, a atriz montou sua própria produtora, a Femme Productions. 

Hoje em dia já encontramos várias cineastas - a sueca Erika Lust, a alemã Petra Joy, a britânica Anna Span e a americana Tristan Taormino - que dizem fazer filmes que se adequam as necessidades das mulheres. Mas afinal, que necessidades são essas?

 Erika Lust

Segundo Alison Lee, gerente da Good for Her – loja que organiza uma premiação para filmes pornográficos dedicados às mulheres – esses longas trazem enredos mais complexos, atrizes com as quais as mulheres possam se identificar, homens bonitos – e não apenas bem dotados –, um pouco de romance e atuações mais verdadeiras. A idéia é mostrar a sexualidade da feminina de forma mais positiva e ao mesmo tempo, excitante.

E eles, como ficam nessa história?
Mas será que esse tipo de filme, mais “sofisticado”, agrada apenas às mulheres? Será que os homens também não gostariam de ver algo desse tipo?
Conversando com alguns amigos para escrever essa matéria, o S.V (27) - que também escreve para o site  Cabeça de Homem -, me disse algo que achei muito legal. “Cara, assistir pornô é meio como gozar com o pau dos outros. Você ‘vive’ uma situação que não acontece, ou raramente acontece, na vida real. Mas é fato que para aproveitar você tem, de certa forma, fechar os olhos para certos exageros ou até absurdos.”. 

Outra coisa que me surpreendeu nessa história foi que, grande parte com os quais conversei, mostrou interesse nos filmes amadores. Acho que nove entre dez citaram a preferência sobre esse tipo de produção. “Prefiro amadores. É algo mais próximo da minha realidade. Gosto de ver orgasmos reais de mulheres, não gemidos falsos e gozadas na boca (como no final de todo filme pornô do mercado). Parece que ninguém goza dentro, que todo homem goza sempre na boca da mulher”, diz M.T (29).

Então os meninos também estão insatisfeitos com a pornografia atual? Sim. Como nós, eles reclamam da pouca qualidade, do roteiro que é sempre o mesmo (boquete-penetração-anal-boquete-ejaculação) e da falsidade que o filme transmite. Para M.T, que não gosta dos pornôs convencionais, tudo ali é falso: gemidos, orgasmos, o corpo das mulheres, etc. 

Ficção versus realidade
Uma primeira consideração que precisa ser feita é que, como qualquer outra industria, a pornográfica quer ganhar dinheiro. É nesse sentido é uma mina de ouro: fica relativamente barato juntar uns 12 atores e gravar num motel barato. Além disso, os avanços tecnológicos e a internet facilitaram e diminuíram bastante os custos de produção e divulgação. Quanto mais se produzir com baixo custo, mais se ganha. Velocidade e quantidade, qualidade é um bônus. Claro que não se deve generalizar, existem muitas iniciativas (como a das cineastas que fazem filmes para mulheres) que procuram desenvolver trabalhos de qualidade. Mas grande parte do que se encontra atualmente no mercado não é lá essas coisas.

Outra coisa que tem que ser levada em conta é que, como todo filme, os pornôs também são ficção. Em nosso dia a dia, por exemplo, normalmente não fazemos sexo com o salto alto (coisa que aliás, sempre me incomodou nos pornôs). Um post muito bom do Papo de Homem fala exatamente sobre isso. “Sexo real não precisa ser assim. Pessoas reais com certeza não são assim. Um homem não tem de ser musculoso, bem-dotado e fazer o estilo garanhão de churrascaria para ser gostoso na cama. Não mesmo. Assim como uma mulher não tem obrigatoriamente de colocar silicone, depilar zerado ou ficar falando “yeah, yeah, fuck me harder” para ser gostosa. Sexo pode ir muito além disso.”.

Pois é. Os filmes contam com imagens e som para nos excitar. Na realidade, temos muito mais que apenas duas dimensões. Além da audição e da visão, temos o cheiro, temos o toque, temos o gosto. E em algumas vezes, também temos o encaixe, a química. E é isso que faz uma boa noite de sexo.
Pornografia é legal? Super. Pode até ser bastante instrutiva, mas não é a realidade. É como disse Deb., autora do post que eu citei acima, se atores pornôs fossem realmente bons, estariam no mínimo nas novelas da Globo.

0 comentários:

Postar um comentário